26.2.09

Outro

Hei!
Tem um novo post no http://bondelaire.com/

Vá lá e deixe sua graça!

30.12.08

Novo Post

ei!
Tem novo posto no novo blog do velho BonDeLaire.

Acessa lá!

BonDeLaire agradece.

http://bondelaire.com

17.10.08

Um sonho realizado

Conseguir realizar um blog por conta próprio parecia um distante objetivo, considerando que mesmo o tempo para blogar estava bem curto.

Porém, cá estamos, BonDeLaire pedindo desculpas aos seus leitores pelo tempo de demora, mas por um bom motivo!!

Com muito Carinho o meu obrigado e o novo link!

www.bondelaire.com

Já postei um para inaugurar!

Boa lairtura!

15.5.08

Cemporcento de atenção, cemporcento do tempo

Tommy, loiro, alto, bonito e simpático, é daqueles chatos. Tem gente que só de vê-lo em sua direção já vira de costas, finge que esqueceu algo, disfarça e muda de caminho. Eu mesmo digo estar sempre com pressa e atrasado para a reunião. Pena que isso não adianta. Ele te acha, chega babando, cutucando passando a sua frente. Precisa ser notado, precisa ser ouvido, precisa sentir a sua atenção! E eu sempre amoleço, e todos sempre amolecem.

Deve ser porque Tommy é loiro, alto, bonito e simpático. E é daqueles que sempre chegam e chegam a toda hora. Parece estar esperando por você, babando, cutucando e passando a sua frente. Se você muda o passo, tropeça; se o adianta, ele quer saber porque. Mas eu sempre amoleço, e todos sempre amolecem.

Dia desses não teve jeito. Eu estava saindo de casa e lá veio ele com aquela carência de atenção. E cutucou, e se colocou na minha frente. Eu olhei pra ele sincero e, com todas as palavras grite: “PUTA QUE PARIU!! Tu és chato, hein?!”. Ele olhou pra mim, baixou o olhar e disse só uma só: Au. Eu sempre amoleço. Todos sempre amolecem.

10.4.08

Dezoito anos

Júnior vivia à sombra de seu pai.
"Quando ele crescer vai ser igual ao pai!". Não aguentava mais escutar isso. Já não bastasse seu nome igual - com o estúpido Júnior no final - ainda tinha que aturar piadinhas, comparações e aquele apelido de Juninho.
Seu pai, culto professor universitário, centenas de artigos publicados, outras tantas palestras internacionais proferidas e vomitadas, quinze patentes de produtos e batalhões de bolsistas gerando conteúdo de pesquisa, carregava consigo o ar de superioridade boçal que só um professor que acredita dominar o mundo consegue exalar.
Júnior não era nada disso. Gostava de jogar fliperama e conversar pelo Orkut. Discutia rock'n'roll e usava franjinha oxigenada, coitado.

Mas eis que Bob Pai morreu... e deixou uma gorda herança para Júnior. Hoje Juninho evoluiu! Joga fliperama, conversa no Orkut, discute rock'n'roll, pinta a franjinha e gasta muito dinheiro com prostitutas e whisky 12 anos.
18 anos, por favor.

7.4.08

Paredes

Paredes, garoto simpático e atencioso, mas tão covarde quanto um filhote solto na estrada em Dia de Finados. Tinha um medo doentio de morrer! Tinha um medo assustador de se arrepender! Tinha medo de qualquer animal e medo de se dar mal. Tinha medo do muito escuro e do muito claro. Tinha medo do lado de fora e do lado de dentro. Tinha medo de poetisas e de obras de arte renascentistas.
Paredes, virgem Paredes, tinha medo de mulher mas também o tinha de homens. Tinha medo de se apaixonar e não ser correspondido, medo de se danar e não ser acudido. Andava em círculos na mesa da sala, cuidando a canela, pensando se na geladeira haverá de faltar comida. Tomava banho de chinelos de borracha, e ao acordar, ficava 20 minutos deitado para evitar câimbras matinais.

Naquele dia não conseguiu sair de casa. Tinha medo. Não conseguia passar da porta, não conseguiu abrir o trinco. Não conseguiu tocar no trinco. Ficou com medo de ficar para sempre sozinho. E foi ficando. E pensou, e pensou, e ficou com medo de perder o medo, e com ele sua personalidade. Parou... e até hoje não mais se mexeu.

17.3.08

Salve Maria

Maria aceitava tudo: o que queria e o que não queria. Dizia que a hora dela chegaria. Queria um tempo de folga, mas aceitava ficar trabalhando. Queria um carro bonito, mas aceitava um sapato bonito – ou ao menos confortável. Queria que seu marido fosse carinhoso, mas aceitava sessões de agressão. Queria vestir fiorucci, mas aceitava seus trapos de bom tom.

Maria aceitava de tudo mesmo! Dizia que a hora dela chegaria. Queria um jantar a luz de velas, mas aceitava-o quando faltava eletricidade no barraco. Queria um telefone celular, mas aceitava a cara feia da vizinha fuxiqueira (que tinha telefone) passando o recado. Queria filhos estudiosos, mas aceitava-os desleixados. Queria andar de avião, mas aceitava ainda a condução.

Maria aceitava de tudo mesmo, dizendo que a hora dela chegaria. E chegou: morreu na segunda-feira passada.

Maracujina

Quer ver uma coisa que me deixa nervoso é me chamar de “nervosinho”. Talvez seja por causa da ansiedade e da intolerância, ou ao menos é isso o que dizem. Espero alguma coisa e, quanto mais perto do prazo, mais ansioso eu fico. E quando vem, quase sempre não me satisfaço, sempre insatisfatório! medíocre! ridículo! e isso acabava com meu dia e com o dia de quem estiver ao meu lado.

Tinha que acabar com a ansiedade, e agora tudo há de mudar! Plantei um pé de maracujá, mudei-me para perto do mar. Entrei no Yoga, ganhei um cachorro e um saxofone e proso longas conversas comigo mesmo. Incrível como a ansiedade ficou de lado.

Quanto à intolerância... bom..., você é um completo imbecil se você não entendeu o recado. A intolerância é a minha natureza, e se ninguém pode ir contra a sua: quem serei eu para tentar. E se me chamares novamente de “nervosinho”, eu não me importarei se tiver que esperar uma semana para chutar sua cara. Paciência é minha conquista! ou seria a dessa caixa de Lexotan vazia? VAZIA??!! Aaahhh, fodeu!

11.12.07

Luxúria

Aquela cidade era quente. Dia e noite não havia um lugar que não deixasse você todo suado, melado, fedido.

Maurício, quando chegou vindo de longe, duvidava que um lugar daqueles existiaria. Estava mais de 40 graus e nem sinal de uma praia. No meio da rua, um rodamoinho de poeira com o bafo que vinha de todos os lados. As pessoas, quase sempre cabisbaixas, vagarosas, passavam por ele e desviavam os olhos quase como envergonhadas.

Realmente só descobriu o nome da cidade quando viu aquele homem todo de vermelho e com rabo em forma de seta.
Lamentou: "PUTA MERDA! destrui minha Ferrari!"

11.11.07

Crescimento Pessoal

Paty só dizia: "Quando eu crescer, quero ser igual a você...".
Mas o que Paty não sabia, é que já era crescidinha. Queria andar no pedalinho, ou então algodão doce, queria aquilo tudo que ninguém achava que uma menina daquele tamanho deveria querer.

Por que Paty quereria algo tão simples se, hoje, bastaria casar com o nobre Sr. Leonardo? Afeiçoado, de boa família, um aristocrata de bens com origens duvidosas. Por que Paty deixaria de querer tal carinho? Poderia ter alazões, mas queria pôneis. Assistiria ao show do Lou Reed em Nova Iorque, mas queria um adesivo da Sandy autografado.

Sua mãe a questionava, e seu pai... preferia não comentar. Sua avó cobria Leonardo de mimos, com bolinhos de chuva e pães caseiros da horinha. Chamava-o "meu netinho"! E Paty parecia fingir que não entendia.

Bom, deve ser porque ela gostava mesmo era do Marcus André, aquele moreninho, que senta na fila da janela da sua sala, na 6a série do colégio estadual.

Bom, particularmente, acho que o Marquinho não tem chance...

24.10.07

Filho da Luz

...já estava com saudade dos épicos. Voou!

No antigo Egito, bem antes de Cleópatra e aquele rolo todo com o César, vivia Animelviz, o Mago. Nascera pouco depois que os primeiros egípcios vieram do espaço. "Filho direto da luz", disse ele nos momentos de pregação.

Naquele verão a fome era de seu povo mas, com um gesto, fez o Nilo subir, e viu o deserto florir pela primeira vez. E o povo aplaudiu, cantou, dançou, comeu, bebeu afinal, tudo que tem numa boa festa. No auge da bebedeira Animelviz virou o primeiro faraó para reinar a paz e a música. E depois de 1000 anos decidiu que seu povo estava pronto para evoluir sozinho, e se despediu... numa grande festa.

Bom, ao menos foi isso que ele me contou na sexta passada naquele boteco escuro. Ele preferia não chamar atenção desde sua última aparição pública, na qual teve que fingir a morte. E vide que interessante: desde a antiguidade já é sabido que Elvis não morreu.

5.9.07

Indubitavelmente

Eu prefiro as mulheres. Ah! as mulheres. Toda aquela delicadeza, maciez e beleza. Se bem que o homem também é belo. Então... acho que por vezes prefiro os homens. Ah! os homens. Todo aquele humor constante e companheirismo. Se bem que as mulheres também são companheiras.

É. Acho que prefiro as mulheres. Ah! as mulheres. Aqueles seios sensíveis, beijo suado, aquele amor invisível. Se bem que o homem também ama. Então... acho que por vezes prefiro os homens. Ah! os homens. Toda aquela concentração, força e disposição. Se bem que as mulheres também são fortes.

É. Acho que prefiro mesmo são as pessoas.
Se bem que, as vezes, prefiro os coelhos.

* homenagem à Helga Rogatchio (ah! os coelhos).

26.7.07

Palmas por educação

Tic clip tip clic
Tic, tic, tic, rrrrr
- Bla, bla, bla, bla
Cof, cof
- Bla, bla, bla, bla
Tic, tac, tic, tac
- Bla, bla, bla, bla. Muito obrigado pela atenção.
Clap, clap, clap, clap
zzzz ã?

... tem gente que se supera,
e nosso papel é reforçar esse sentimento...

16.7.07

O Caminho do Bem - v. BonDeLaire

O Caminho do Bem é Psycional.
(clique no PLAY e aguarde! espero que não enrole no cabeçote dessa vez.)




Bondescutaire e Tim Maia

4.7.07

Chiiiicooooo

A vida não parecia tão difícil para Chico. Ou ao menos era assim que chamavam Chico Sorriso.

Chico nascera iluminado! Todo o lugar no qual aparecia, logo de sorrisos se enchia. Chegava beijando, abraçando, dando risadas altas, prendendo a atenção de todos com sua envolvente oratória.

Isso tudo aconteceu até ele entrar numa dessas igrejas que têm em todas as esquinas.
Chico sumiu! Chico sumiu!
Ai! que saudades do Chico. Hoje, Pastor Sorriso cobra para me deixar feliz. E pior que isso... eu pago.

3.7.07

Aloísio Passos

Aceitar tudo o que vem, sem reclamar, sem nem ao menos contribuir com novas idéias. Lá vem o Aloísio em passos largos e de cabeça baixa.

Passos, o passivo como chamavam, vivia levando bronca da esposa. Aliás, do vizinho, do motorista do ônibus, do chefe - e esse então nem se fala! Do tio da padaria, do carteiro e do cachorro que latia.
Na verdade, acho que Passos não sabia falar, ou ao menos nunca ninguém acusara tê-lo ouvido. Talvez nem sua esposa conseguia ouvi-lo, pois ele mal mexia a boca para mastigar...

Mas de tanto reclamar de dores nas costas, um dia foi ao médico e achou sua explicação: Aloísio nascera com o pescoço curto na parte da frente.

15.6.07

Claustrofocamentebia

Por maior que pareça ser o universo, Klaus sentia-se preso. Seu loft de 300 m2 era dividido por móveis baixos, detalhes na decoração e tapetes lisos, mas isso não era suficiente para o seu conforto. “Quem inventou portas de banheiro?” – perguntava entre tetos retráteis e carros conversíveis - aliás, se não fosse conversível preferia andar à pé. Não sabia o porquê desse sentimento, e nesse momento, odiava-se por manter a dúvida presa em si - talvez as dúvidas sentissem o mesmo que ele...

E de tanto assim pensar, pensou estar preso em suas próprias idéias. A lua presa na noite, a noite presa entre dias, os dias presos no tempo, o tempo preso nas horas. Ninguém mais agüentava Klaus, o claustrofóbico. Foi ao bar e abriu a primeira garrafa de whisky da noite. Imediatamente concluiu que não podia deixar todo aquele líquido preso dentro da garrafa... e, pensando nisso e nas outras garrafas do bar, passou a esvaziá-las uma atrás da outra. Ufa!

Completamente bêbado, com a barriga estufada, pensou em todo aquele líquido preso dentro dele e tonteou. Tonteou uoetnot e vomitou... e vomitou como nunca. E de tanto vomitar, vomitou até virar do avesso. Finalmente saíra de dentro de si mesmo - Klaus agora estava livre. Ah! se ele soubesse disso antes.

6.5.07

Prosa que não era prosa

Em um tempo que não era há tempos, tinha um homem que não era homem, em uma casa que não era bem uma casa, falando uma língua que eu não entendia. Ele vestia uma roupa que não era bem uma roupa, com um chapéu que não tinha abas e fumava um cigarro que não era desses que se conhecia.

Esse homem não atendeu quando chamei seu nome, pois não era o nome chamado aquele que ele dizia ser do homem, mas me atendeu melhor do que eu esperava ser atendido quando não chamei o seu nome, mas sim sua atenção.

Susi, o travesti mais antigo daquele bordéu sujo, fumava um baseado vestindo roupas infames e sua peruca loura black power predileta. Sussurava um "vamos vamos vamulá pra dentro" ao pé do meu ouvido. "Vamu lá fazê amô - que naum é amô. Só que eu cobro dinhêro, mas pra ti não é dinhêro."

Acho que a única coisa que era de verdade, e que outrora queria que não fosse, era que eu estava ficando de pau duro. E pior, eu tinha cartão de crédito que tinha crédito e tinha tempo que era bastante tempo... e tinha vergonha que não era vergonha.

28.4.07

Pacifiquez

Leonildo Pacífico morava no Egito. Leonildo o querido, o belo.
Não bastasse o seu dia trabalhado e suado, durante a noite pacientemente ficava sonhando em ser o grande Líder da sua tribo. Só Pacífico traria a Paz! Tinha em seu nome o destino do povoado e em sua voz o clamor do sossego.

Mas Leonildo Pacífico decepcionou-se naquele dia, quando seu melhor amigo elegeu-se para ocupar o almejado cargo. "O desgraçado safado sabia. Sabia que eu sonhava ser o Líder! Traidor! TraiDOR... TRAIDOR!"

Pacífico como só ele, buscou seu machado de estimação e, em só golpe, arrancou o braço direito do ex-amigo que vinha ao seu encontro compartilhar o vinho da vitória. Pois e logo depois, pacificamente, degustou o vinho.

Não há como duvidar: a situação é sempre única.




* uma homenagem à Leandro Pacífico, que após perder o emprego, ateou fogo no local onde trabalhava e depois suicidou. A situação é única, e essa ele não faz de novo.

24.4.07

Glória Reis

Glória, oh Glória! Não se preocupe demais, você vai vencer...
(clique no PLAY e aguarde! espero que não enrole no cabeçote dessa vez.)
Glória Glória! Você vai vencer!













Bondescutaire y Hombre sin Nombre

18.4.07

Simplesmente: Arrigo

"Aquele arrogante passou por aqui" - era só o que se escutava do povo daquela cidade, pois a novidade do dia era que Arrigo perdera o emprego.

Pudera, " O chefe não soube explorar meu potencial!", saiu enchendo a boca, e logo vangloriava-se, pois agora poderia iniciar uma caminhada. E caminhada seria bem o termo, pois o dinheiro acabou, e até mesmo para o ônibus ficara difícil. Boa chance para criticar o governo pelo “passe livre aos desempregados”, um problema de cunho social, mas logo vangloriou-se, pois agora poderia "manter as pernas mais belas e exercitadas da cidade”.
Num dia criticou o da padaria, que não fiava antigos clientes, vangloriando-se que em pouco tempo a compraria, e demitiria todo mundo, menos a moça do caixa, “que é apaixonada por mim”. Pois se era, naquele dia chegou em casa e sua mulher o abandonara. "HAHAHA, realmente não conseguiu aguentar o tamanho do pinto do Arrigo!". Mas na tristeza de seu sorriso adoeceu e morreu em dez dias...

No seu bilhete de despedida não queria que espalhasse a notícia de sua morte, pois não gostava de ver muitas pessoas chorando, e também não queria prejudicar a economia da cidade com o luto... Se contentaria com um busto na praça central: “Arrigo: simplesmente Arrigo, o piadista diário da desgraça própria, afinal, brasileiro".

26.2.07

Quando um é pouco e dois é bom.

O casal era tão bonito, tão bonito, que dava vontade de desmanchar...
Mas só para fazer um triângulo... e não é que tinha alguém que pensava nisso!

O dia todo, todos os dias. Não era apaixonada por um ou por outro: era apaixonada sim pelos dois juntos. Talvez pela energia que circulava entre eles ou quem sabe pelo carinho que tinham um pelo outro.

Bom, de qualquer forma Iara queria fazer triângulo. Falava do mundo tridimensional e de Pitágoras, pois considerava-se uma hipotenusa, ou hipotemusa utilizando o trocadilho (o porquê de todo o trocadilho ser infame) que ela mesma espalhava em segredo. Quando dava em samba, sentia-se a cuíca do Trio Mocotó.

E sem folga: cinema, teatro ou jantar, ela sempre dava um jeito de estar no meio dos dois. Mas em uma crise de ciúmes Iara virou estopim. E isso não terminou bem.
Iara tentou, era de se esperar, e piorou a situação, era de se prever. Hoje, do casal tão bonito. só a fotografia.

E de Iara?
Ah sim! ela está ali na sala com a minha esposa... conversando sobre esse assunto... há 27 dias.

20.2.07

A Desesperança

Nascida prematura, se havia uma coisa que Esperança odiava era ter que esperar. Seja o tempo que fosse: uma hora, meia hora, cinco minutos (salve Jorge). Talvez fosse por isso que sempre chegava atrasada aos compromissos - pois só assim era garantido que não esperaria.
O rol de desculpas de Esperança passava pelo engarrafamento na ponte ao relógio que não despertara. Sua chegada, sempre triunfal, refletia a angústia nos olhos dos des esperados.

Pegar ônibus? Nem pensar... Elevador? Se não estiver parado no andar preferia as escadas. Talvez também por isso nunca se interessou em ter filhos. Nove meses!

No carnaval passado ela brincou. E como era de se esperar, na sua angústia saiu com o primeiro homem que nela chegou... em todas as noites. Um mês depois não conseguia mais dormir e foi fazer o teste. Devia ter esperado ele colocar a camisinha. E para não ter que esperar a cura da aids, pulou na frente do trem que, acredite se quiser, estava no horário.

9.1.07

Reino de bobos

Disseram por aí que há muito tempo, em um reino desconhecido, um fato curioso ocorreu. Desses que se contam nas historinhas para ninar adultos.
Naquele reino havia um Bobo. Isso mesmo! Daqueles com chapéu de estrelas e roupas multicoloridas, e que teimava em não ser engraçado. Ele dizia em todos os cantos: “Eu já sou bobo, por que ainda tenho que ser engraçado?”.
Sendo ou não sendo engraçado, ao menos o Rei estava satisfeito. Passava o dia tirando sarro do Bobo enquanto este, por sua vez, demonstrava não ter senso de humor. O Bobo queria mesmo eram roupas de seda chinesa, jantares na mesa real e privilégios sexuais com as cortesãs.

Eis que um dia o Bobo começou a dar ordens aos súditos. Dizia ter influência e o respaldo do Rei. Ele vinha andando e apontando para os colonos: “Hei você! Vire dez cambalhotas duas vezes por dia aqui no parque: ao amanhecer e ao anoitecer. É uma ordem para aumentar a alegria do reino.”, ou então: “Você e sua linda esposa dançarão todos os dias ao bater das 17h em frente ao palácio real.”, “e você outro! És responsável pela música desta dança.”.
Em pouco tempo o reino inteiro estava fazendo bobagens ao menos alguma hora do dia. O Bobo tinha até escritório agora. Vinham-lhe reclamar de dores nas costas, que não conseguiam mais plantar bananeiras, e o Bobo trocava sua bobagem: “não tem problema, todas as vezes que passares em frente ao palácio deverás girar em torno de si mesmo com os braços abertos”.

O Bobo logo ficou tão ou mais famoso que o Rei. Quem não aceitava suas bobagens ia para a “lista negra da tristeza”, ferramenta que o próprio Bobo criara. No final do mês os indivíduos da lista eram submetidos a sessões de tortura e tristeza, carregar caixão no velório, ficar sem ver o Sol por dias. E ai de que não se arrependia.
Na medida em que todos foram se acostumando com as bobagens, ficava muito mais fácil a tarefa. O Bobo ganhara respaldo popular, o poder. Lembro até que certa vez um dos carrascos oficiais do reino tinha ficado deprimido pois o Bobo fazia tempos que não passava nenhuma tarefa nova para ele.

“O reino mais alegre do mundo!” Gritou o Rei quando acordou naquela manhã bonita. E completou: “Mandem o Bobo para a forca!”.

“Mas por quê?” perguntou um de seus súditos.

“É que ele, de bobo não tem nada...”

9.12.06

Rede

Estava o homem a puxar sua rede.
Pesada como estava "só poderia ter um milhão de peixes" pensava.

Ora pois que chegou de surpresa um jovem simpático de cabelos vermelhos, todo vestido de azul, e deu uma risada engraçada. Ele já tinha visto que o homem puxava a rede fazia tempo, e, agora, decidiu ajudá-lo.
Segurou na corda atrás do homem e fez de conta que fazia força enquanto motivava ferozmente: “Vamos! Vamos! Mais um pouco! Tá quase! Lá vem! Tem um milhão de peixes!”.

Finalmente a rede veio à areia. Num pulo o baixinho disse: “Como ajudei-te, nada mais justo que tu fiques com o que sobrou e eu fique com todo o resto!”.
Mas, sentindo-se enganado e sem respirar o homem berrou: “Peraí! Chegaste tarde, tu ficas com o que sobrou! Eu fico com o resto!”.

Moral 1: Tem gente que realmente não pensa antes de falar.
Moral 2: Nunca tente negociar com o Pica-Pau.

A Inveja e a Cerveja

Mariana amava Raul, ou amava tanto que queria estar sempre com ele. Na verdade Mariana invejava Raul, ou invejava tanto que queria ser como ele.
Mariana era do mar. Raul, do ar. Deslizar nas ondas e nadar com os peixes ou voar como pássaros num céu azul? E Mariana, insatisfeita, tinha também que voar.
Falou com Raul que lhe perguntou? “Mas como Mariana deixaria o Mar?
Mariana mudou de nome. Passou a chamar-se Ariana. Feliz da vida agora iria para o ar, sentir o vento.
“Mas como uma mulata tão linda, dourada e brasileira, poderia ser uma ariana?”

Ariana amava Raul, e queria ser como ele.
Por outro lado Raul invejava Mariana, pois a danada lutava e tanto até conseguir o que queria. E ela queria amar. Raul queria ser como ela. Mas não conseguia.

Ariana mudou de nome. Passou a chamar-se Ana. “Mas Ana de quê?”.
É mesmo, toda Ana tem um segundo nome. Ana Cristina, Ana Amália. Ela era Ana do Nada ou melhor, Ana, de Mariana. Mas não daria mais, agora ela era do ar.
E no auge da sua inveja, entrou no bar para tomar sua cerveja. E Raul também estava lá, tomando sua cerveja, aos beijos com um belo rapaz. Mulato também. Um exímio espécime.
Hoje, Ana, de Mariana mudou de nome. Chama-se Raul.
Ah! E não ama mais o infeliz. Afinal, ela não queria tanto ser o Raul?

9.11.06

Desvirtude conceitual

Ele não parava um só minuto: “Por que?”. Eu respondia “por que não?”.
Em seguida perguntava: “Como?”, mas como não? E não tardava e perguntava “Quando?”, para ouvir “não espere não”.
E se me diz “Pare”, eu não paro não, mesmo que diga “Morra!”, eu sinto muito, mas chato não morre.
É a desvirtude conceitual do indivíduo otimista: ser negativo e provocativo.

23.10.06

Coisa de gente grande

Nasceu na beira do mar e, ainda no alvorecer de sua infância, ganhou um calção. Por horas a fio, pôs-se a nadar. Primaveras, verões e inclusive gelados invernos ele treinou, braçada por braçada, aperfeiçoando-se.
Aprendeu a nadar. E era só o que fazia: nadava naquele mar de veludo, com as gaivotas, com os peixes, com tudo o que se mexia. Como as ondas ele aprendeu a nadar. E nunca haveria de esquecer.
Cresceu e ganhou um pé-de-pato, queria mergulhar. Na sua adolescência tardia aprendeu a arte de olhar debaixo da água, a prender a respiração, a interagir com aquele habitat tão diferente e surpreendente. E tudo que fazia agora era nadar e mergulhar, e nunca haveria de esquecer.
E só nadava e mergulhava desde então. Mas, aos 18 anos, ganhou um arpão. E na primeira manhã, às 9 horas, aprendeu a matar. “Como isso é fácil de fazer?”, pensava.
Hoje ele sabia nadar, mergulhar e matar. Difícil foi só de esquecer, pois matando aprendera a morrer. Coisa de gente grande.

18.10.06

O homem que tudo queria

Tinha tudo o que queria, e queria tudo o que via.
Passava o dia observando o redor. Se alguém tinha uma roupa bonita, ele a queria, se desfilassem uma bolsa da moda, ele comprava.
Mas não via só o que podia comprar... pois passava o dia observando o redor. Se alguém tinha uma nova namorada, ele precisava tê-la, se outro alguém conseguisse uma promoção no trabalho, ele tinha que tê-la também, ou ao menos fazer com que esse outro a perdesse, tanto faz.
Tinha tudo o que queria, e queria mais do que podia. E para isso dizia ter dinheiro, e ele compra tudo, não compra? Ele queria a felicidade do amigo, a beleza do surfista, a inteligência do professor, a destreza do pára-quedista.
Fazia tudo o que queria, e queria tudo o que via, mas não via tudo o que fazia. E por não ver tão assim, confiante, atravessou na contra mão.
“Aqui jaz um homem que só queria ser notado”, mas que, no final, só os vermes choraram quando ele acabou.

16.10.06

Rosa

“Uma flor, eu quero uma flor.” - falava bicuda, aquela moça tão bela no meio da rua de barro longe da capital.

Chamava-se Rosa e bem sabia que, atrás de uma moça bonita, muitos homens esperando momentos de ganhar um sorriso.
E vinham de todos os lados, de cima e de baixo, com lírios entre margaridas e acácias. Ela tinha de tudo o que pedia e hoje, como sempre, queria uma flor.

O portador da flor mais linda era presenteado com um beijo. No rosto, é claro, e um sorriso, afinal. Quem não queria um beijo de Rosa, ela só queria uma flor.

E Rosa era esperta. Cada dia escolhia a flor de um diferente galanteador. Assim tinha todos não tendo ninguém. Só a flor do pobre lavrador ela não escolhia.
Por mais que fosse a mais bela e suntuosa orquídea, ou um crisântemo gigante com tulipas escandinavas, Rosa não escolhia. Tinha asco do lavrador, babão e molenga, com olhos brilhantes que só tem quem está apaixonado. Além disso, não tinha dinheiro para cobrir as pretensões de Rosa. Só tinha a mais bela flor.

E Rosa era esperta, e foi para a cidade. Lá, com certeza, conseguiria dinheiro e muito mais flores e galanteadores.
“Uma flor, eu quero uma flor”, e ninguém atendia. Mas ela não desistia, “Uma flor, ao menos uma flor...”. Os dias passaram e o dinheiro acabou, e ninguém escutou. Teria que retornar para sua rua de barro.

Mas chegando lá, tudo mudara, Rosa não era mais a bela do jardim, e, no lugar dela, muitas outras flores, outrora botões, abriram-se e brilhavam. Só o lavrador, a ela, deu atenção.
“Lavrador, dá-me uma flor. Uma flor, eu quero uma flor...”
“Claro Rosa, minha deusa, minha musa, meu jardim, minha Babilônia. Cá está a mais bela das belas, só superadas pela sua beleza... São 20 reais.”

14.10.06

Quem dera

quem dera
pudesse escrever
algo tão bom de ler
ou como Baudelaire
sair da rotina e me ...