10.4.08

Dezoito anos

Júnior vivia à sombra de seu pai.
"Quando ele crescer vai ser igual ao pai!". Não aguentava mais escutar isso. Já não bastasse seu nome igual - com o estúpido Júnior no final - ainda tinha que aturar piadinhas, comparações e aquele apelido de Juninho.
Seu pai, culto professor universitário, centenas de artigos publicados, outras tantas palestras internacionais proferidas e vomitadas, quinze patentes de produtos e batalhões de bolsistas gerando conteúdo de pesquisa, carregava consigo o ar de superioridade boçal que só um professor que acredita dominar o mundo consegue exalar.
Júnior não era nada disso. Gostava de jogar fliperama e conversar pelo Orkut. Discutia rock'n'roll e usava franjinha oxigenada, coitado.

Mas eis que Bob Pai morreu... e deixou uma gorda herança para Júnior. Hoje Juninho evoluiu! Joga fliperama, conversa no Orkut, discute rock'n'roll, pinta a franjinha e gasta muito dinheiro com prostitutas e whisky 12 anos.
18 anos, por favor.

7.4.08

Paredes

Paredes, garoto simpático e atencioso, mas tão covarde quanto um filhote solto na estrada em Dia de Finados. Tinha um medo doentio de morrer! Tinha um medo assustador de se arrepender! Tinha medo de qualquer animal e medo de se dar mal. Tinha medo do muito escuro e do muito claro. Tinha medo do lado de fora e do lado de dentro. Tinha medo de poetisas e de obras de arte renascentistas.
Paredes, virgem Paredes, tinha medo de mulher mas também o tinha de homens. Tinha medo de se apaixonar e não ser correspondido, medo de se danar e não ser acudido. Andava em círculos na mesa da sala, cuidando a canela, pensando se na geladeira haverá de faltar comida. Tomava banho de chinelos de borracha, e ao acordar, ficava 20 minutos deitado para evitar câimbras matinais.

Naquele dia não conseguiu sair de casa. Tinha medo. Não conseguia passar da porta, não conseguiu abrir o trinco. Não conseguiu tocar no trinco. Ficou com medo de ficar para sempre sozinho. E foi ficando. E pensou, e pensou, e ficou com medo de perder o medo, e com ele sua personalidade. Parou... e até hoje não mais se mexeu.