23.10.06

Coisa de gente grande

Nasceu na beira do mar e, ainda no alvorecer de sua infância, ganhou um calção. Por horas a fio, pôs-se a nadar. Primaveras, verões e inclusive gelados invernos ele treinou, braçada por braçada, aperfeiçoando-se.
Aprendeu a nadar. E era só o que fazia: nadava naquele mar de veludo, com as gaivotas, com os peixes, com tudo o que se mexia. Como as ondas ele aprendeu a nadar. E nunca haveria de esquecer.
Cresceu e ganhou um pé-de-pato, queria mergulhar. Na sua adolescência tardia aprendeu a arte de olhar debaixo da água, a prender a respiração, a interagir com aquele habitat tão diferente e surpreendente. E tudo que fazia agora era nadar e mergulhar, e nunca haveria de esquecer.
E só nadava e mergulhava desde então. Mas, aos 18 anos, ganhou um arpão. E na primeira manhã, às 9 horas, aprendeu a matar. “Como isso é fácil de fazer?”, pensava.
Hoje ele sabia nadar, mergulhar e matar. Difícil foi só de esquecer, pois matando aprendera a morrer. Coisa de gente grande.

2 comentários:

Edna Araujo disse...

Porque as coisas mais graves, definitivas e irreversíveis são as mais difíceis de esquecer.

Marina Speranza disse...

melhor saber se defender