Maria aceitava tudo: o que queria e o que não queria. Dizia que a hora dela chegaria. Queria um tempo de folga, mas aceitava ficar trabalhando. Queria um carro bonito, mas aceitava um sapato bonito – ou ao menos confortável. Queria que seu marido fosse carinhoso, mas aceitava sessões de agressão. Queria vestir fiorucci, mas aceitava seus trapos de bom tom.
Maria aceitava de tudo mesmo! Dizia que a hora dela chegaria. Queria um jantar a luz de velas, mas aceitava-o quando faltava eletricidade no barraco. Queria um telefone celular, mas aceitava a cara feia da vizinha fuxiqueira (que tinha telefone) passando o recado. Queria filhos estudiosos, mas aceitava-os desleixados. Queria andar de avião, mas aceitava ainda a condução.
Maria aceitava de tudo mesmo, dizendo que a hora dela chegaria. E chegou: morreu na segunda-feira passada.
17.3.08
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