7.4.08

Paredes

Paredes, garoto simpático e atencioso, mas tão covarde quanto um filhote solto na estrada em Dia de Finados. Tinha um medo doentio de morrer! Tinha um medo assustador de se arrepender! Tinha medo de qualquer animal e medo de se dar mal. Tinha medo do muito escuro e do muito claro. Tinha medo do lado de fora e do lado de dentro. Tinha medo de poetisas e de obras de arte renascentistas.
Paredes, virgem Paredes, tinha medo de mulher mas também o tinha de homens. Tinha medo de se apaixonar e não ser correspondido, medo de se danar e não ser acudido. Andava em círculos na mesa da sala, cuidando a canela, pensando se na geladeira haverá de faltar comida. Tomava banho de chinelos de borracha, e ao acordar, ficava 20 minutos deitado para evitar câimbras matinais.

Naquele dia não conseguiu sair de casa. Tinha medo. Não conseguia passar da porta, não conseguiu abrir o trinco. Não conseguiu tocar no trinco. Ficou com medo de ficar para sempre sozinho. E foi ficando. E pensou, e pensou, e ficou com medo de perder o medo, e com ele sua personalidade. Parou... e até hoje não mais se mexeu.

4 comentários:

Marina Speranza disse...

é triste, mas me identifiquei com o tipo.

Edna Araujo disse...

Todos corremos esse risco.

Edna Araujo disse...

Reli. Este é o melhor.

BonDeLaire disse...

Bondelaire agradece! pois tive medo de que não estivesse tão bom...